quinta-feira, 25 de abril de 2013

O rei está nu


Nada há de mais antagônico ao belo natural do que o esforço que se emprega para exprimir coisas ordinárias ou comuns de um modo singular ou pomposo; nada degrada mais o escritor. Longe de o admirar, lamenta-se que ele tenha passado tanto tempo a fazer novas combinações de sílabas, para dizer tão-só o que toda a gente diz. Este é o defeito dos espíritos cultivados, mas estéreis; têm palavras em abundância, mas não ideias; trabalham, pois, com as palavras e imaginam ter combinado ideias, porque arranjaram frases, e julgam ter depurado a linguagem quando, na verdade, a corromperam, desviando as acepções. Estes escritores não têm um estilo ou, se quisermos, têm apenas a sua sombra. O estilo deve gravar pensamentos: eles sabem unicamente rabiscar palavras. (Conde de Buffon, em seu Discurso sobre o Estilo. Vale a pena conferir a íntegra.)

terça-feira, 23 de abril de 2013

Se a tanto me ajudar o engenho e arte



A arte de escrever, como todas as artes, é difícil e a de hoje é resultado de multisseculares aperfeiçoamentos conseguidos por grandes mestres, cujos processos a crítica esmiúça e apura. Supor que o talento natural, por si só, tudo adivinha, e descobre, de salto ou de oitiva, o que gerações de gênios pouco a pouco revelaram, é incorrer no lamentável erro de tantos músicos, pintores, escultores, perdidos para a arte por não quererem conquistá-la de mansinho, nem lhe aprender custosamente a técnica severa. 
(José Oiticica, Manual de Estilo. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1940, p. 8)

Dando ouvidos a quem sabe das coisas...

Para ser tradutor, é necessário acima de tudo saber ler e escrever bem na língua para a qual se traduz — o português, no nosso caso. Também é importante conhecer muito bem uma outra língua, a língua da qual se traduz — no meu caso em particular, o inglês. Mas esse segundo requisito não é absolutamente vital como o primeiro. Já vi casos de uma pessoa fazer uma excelente tradução de uma língua que ele não conhece muito bem, consultando falantes nativos, dicionários, etc. Agora, uma pessoa que domina mal o português fazer uma tradução excelente para o português é simplesmente uma impossibilidade. Outras coisas que ajudam são dispor de uma ampla cultura geral, ser um leitor insaciável, ter um interesse onívoro por assuntos os mais diversos (mesmo os aparentemente irrelevantes), amar os dicionários, as enciclopédias, as gramáticas.

Os grifos são meus. A íntegra da entrevista você encontra aqui.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Faça um bem a si mesmo

Se você tem veleidades literárias, trabalha com textos alheios, precisa redigir relatórios, bilhetes, e-mails, post-it, enfim, se precisa usar a linguagem escrita em qualquer de suas modalidades, faça um bem a si mesmo, baixe e leia esta pequena preciosidade de Antonio Albalat: A arte de escrever em 20 lições. Depois de ler esta obra, você vai descobrir por que aquele livrinho da Dad Squarisi não merece ter o mesmo nome...

sábado, 13 de abril de 2013

As virtudes do profissional do texto



Desde que ingressei na carreira de revisor de textos, fiz alguns cursos, li diversos livros cujo assunto era o mercado editorial e acumulei alguma experiência. Ainda assim, só muito recentemente encontrei um livro que abordava um assunto esquecido, quase antiquado. Valery Larbaud, em seu Sob a Invocação de São Jerônimo,[1] fala a respeito das virtudes do tradutor (muitas das quais se aplicam igualmente a preparadores e revisores de textos). Para que fique claro a que me refiro quando falo de virtude, cito o filósofo Mortimer Adler, numa passagem em que ele expõe a noção aristotélica de virtude:

Segundo Aristóteles, a virtude moral é o hábito de fazer as escolhas certas. Fazer uma ou duas escolhas certas dentre muitas escolhas erradas não basta. Se as escolhas erradas são em número muito maior do que as escolhas certas, você persistirá na direção errada – irá para longe da felicidade, não para perto dela. É por isso que Aristóteles enfatiza a ideia de hábito.
Você sabe como os hábitos se criam. Para criar o hábito de ser pontual nos seus compromissos, você tem de tentar ser pontual repetidas vezes. Gradualmente se cria o hábito da pontualidade. Uma vez criado, você tem uma disposição firme e forte de ser pontual ao chegar onde prometeu chegar. Quanto mais forte o hábito, mais fácil agir daquele jeito, e mais difícil perdê-lo ou agir de maneira oposta.
Quando você cria um hábito e ele está bem desenvolvido, sente prazer em fazer aquilo que tem o hábito de fazer porque o faz com facilidade – quase sem esforço. Você sente que é doloroso agir de modo contrário aos seus hábitos.
Aquilo que acabo de dizer vale para os bons e para os maus hábitos. Se você criou o hábito de dormir demais, é fácil e agradável desligar o despertador e continuar dormindo. É difícil e doloroso acordar na hora. Por isso, se você criou o hábito de se permitir entregar-se a certos prazeres ou de evitar certas dores, é difícil abandoná-lo.[2]

Julgo necessário evocar essa ideia de virtude porque ela, pelo que me consta, está praticamente ausente do imaginário dos aspirantes ao trabalho com textos – tradutores, preparadores, revisores... Tem-se em mente que é necessário estudar língua, dominar certos recursos de informática, organizar-se como categoria profissional, etc. No entanto, para além de tudo isso, há uma espécie de predisposição ao ofício que antecede a toda essa formação, digamos, técnica do profissional. O conjunto de virtudes que listarei adiante é o que, parece-me, constitui essa predisposição.
Parto de minha experiência pessoal e das leituras que fiz e estou bem ciente de que há uma boa dose de subjetivismo e generalização. Seja como for, se o que tenho a dizer suscitar alguma autocrítica em profissionais experientes ou contribuir para a formação de aspirantes e iniciantes, já me darei por satisfeito.
Para o propósito que tenho em mente, não é necessário distinguir com precisão as atribuições de um preparador e de um revisor de textos. Mantenho o termo revisor simplesmente porque estas considerações foram suscitadas pela avaliação do trabalho de um revisor. O que vem a seguir, no entanto, se dirige igualmente a preparadores e revisores.


1. O revisor humilde (humildade x orgulho)

Já vi o revisor ser comparado a um goleiro – execrado quando falha, esquecido quando brilha. Não considero a metáfora válida. Para mim, o revisor de textos se aproxima mais da figura de um contrarregra – alguém cujo trabalho é garantir, com a máxima discrição possível, sem fazer-se notar, que tudo funcionará bem para que o outro brilhe.
Aliás, um contrarregra que, por alguma razão, se julgue digno dos holofotes está fugindo à sua função. Pode até ser que tenha seu talento e o exiba noutras oportunidades; mas, enquanto estiver como contrarregra, ele é contrarregra. O mesmo vale para o revisor. O pressuposto básico, fundamental, da atividade de revisão é que se revisam textos alheios. Isso implica que o revisor:

  1. Renuncia seu próprio estilo, suas preferências, seu gosto pessoal. Se as escolhas do autor/tradutor estão corretas, coerentes, aplicadas sistematicamente, adequadas ao tom do texto, não cabe ao preparador/revisor modificá-las. Neste quesito se encontram boa parte das substituições de seis por meia dúzia que tanto incomodam tradutores e editores. 
  2. Presume que o tradutor é alguém suficientemente qualificado para fazer o serviço de tradução. Se esta presunção vai se sustentar ao longo do trabalho é outra história. Em geral, é aconselhável que o profissional parta desta presunção e procure imaginar por que o tradutor fez determinadas escolhas. O revisor é um humilde zelador do texto alheio e só deve interferir quando for capaz de justificar, de modo plausível, cada uma de suas intervenções.
  3. Intervém no texto criteriosamente. Na minha segunda semana de trabalho como revisor, fiz alterações no texto de um dos diretores de uma grande empresa. Este deu um chilique, perguntando quem tinha mexido no texto dele. Muito cautelosamente, mas com firmeza, tive de explicar a razão de cada uma das intervenções que fiz. Certamente, quem mais saiu ganhando dessa experiência fui eu. Daí saí com o preceito: Não intervir arbitrariamente, mas criteriosamente.
A humildade faz o revisor/preparador reconhecer que o texto não é seu.


2. O revisor diligente (diligência x negligência)

Se há um vício mortal ao revisor de textos, este é a negligência, a displicência, a suposição de que ninguém vai conferir a qualidade do trabalho. Ainda que demore, em algum momento os problemas virão à tona, e o profissional ficará marcado. Por exemplo: todos os profissionais que trabalham para editoras recebem um manual de padronização e estilo. O manual não pretende ser exaustivo nem uma camisa de força; mas contém critérios convencionais que DEVEM ser aplicados. Se o manual diz que o número da remissão à nota de rodapé deve ficar depois do sinal de pontuação, não há nada que justifique que este apareça antes! Se o manual prescreve que depois do título de um livro citado em referência vem ponto final, não há razão para que conste vírgula. E assim por diante. Muito curiosamente, a revisão de prova acaba tendo de corrigir problemas de padronização porque o preparador deixou a desejar! Isso tem nome: negligência! São exemplos de negligência também erros de ortografia gritantes (que até o revisor do Word pode pegar), dúvidas que podem ser resolvidas com uma simples consulta ao Google, etc.
O revisor diligente confere tudo, consulta tudo, tira dúvidas, relê...

A diligência faz o revisor/preparador seguir com atenção as instruções recebidas e não se furtar à pesquisa para esclarecer suas dúvidas.


3. O revisor prudente (prudência x temeridade)

A partir daqui, as virtudes passam a aproximar-se umas das outras. Já dissemos que o revisor humilde tenta inferir os critérios do autor/tradutor e que o revisor diligente pesquisa, consulta, tira dúvidas. Pois bem, diremos agora que o revisor prudente não intervém quando têm dúvida, não repadroniza injustificadamente, não mexe no texto à revelia daquele que assina o texto ou de seu editor. Se, num romance, o tradutor optou por manter as marcações de diálogo com aspas, mantenham-se; se optou por usar travessões, conservem-se (salvo, claro, orientação contrária). Se, num texto ensaístico, o tradutor optou por usar as segundas pessoas, que assim seja; se ocorrem termos pouco usuais, um vocabulário rebuscado,  por que vulgarizá-los? Vejam: escolher um vocabulário rebuscado ou simplório envolve uma decisão editorial que foge ao escopo do preparador/revisor. 

A prudência faz o preparador/revisor pesquisar, perguntar, esclarecer e somente então interferir.


4. O revisor seguro (segurança x insegurança)

Nada do que foi dito até aqui tem como objetivo tolher a liberdade do preparador/revisor. O que se espera é que os profissionais sejam seguros do que fazem. Repetidas vezes, preparadores deixam comentários e revisores de prova fazem marcações a lápis com perguntas que poderiam facilmente ser resolvidas (com um pouquinho mais de diligência). Estar seguro de si e de seu trabalho significa apenas que se fez o trabalho com diligência e que se é capaz de justificar as decisões tomadas.

A segurança faz o preparador/revisor julgar criticamente suas justificativas e apresentá-las de modo plausível, caso lhe sejam exigidas.


5. O revisor responsável (responsabilidade x irresponsabilidade)

Espera-se que profissionais responsáveis assumam as consequências de seus atos, para o bem e para o mal. Caso algum padrão não tenha sido aplicado, o colaborador deve estar disposto a refazer imediatamente o que fez de modo incompleto ou equivocado; caso se comprometa a entregar o trabalho em determinado prazo, espera-se que o cumpra ou, ao menos, avise à editora com alguma antecedência que não conseguirá cumpri-lo. Sumir é atitude irresponsável. Não responder e-mails é atitude irresponsável. Não atender o telefone é atitude irresponsável.
Não cabe aqui tratar deste assunto, mas abordo-o apenas de passagem: em geral, o profissional já sabe quanto vai receber por determinado trabalho no momento em que o aceita. Alegar que fez o trabalho proporcionalmente ao valor recebido não é apenas irresponsabilidade: é ser desonesto! Se aceitou fazer o trabalho, que o faça com profissionalismo e responsabilidade!

A responsabilidade faz o preparador/revisor cumprir os prazos e as exigências daquele que contratou os seus serviços.


6. O revisor solícito (solicitude x hostilidade)

É imprescindível que um freelancer saiba que é um prestador de serviços, e a editora é um CLIENTE! E, como cliente, tem o direito de exigir que o trabalho seja feito de acordo com o que foi combinado e, caso seja necessário um retrabalho, o profissional, se é profissional de fato, há de fazê-lo de bom grado, visando a satisfazer seu cliente e a garantir que este continue a contar com seus trabalhos.

A solicitude faz o preparador/revisor receber de bom grado um feedback relativo ao seu trabalho mesmo quando este é negativo.

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Perceberam como nada do que foi mencionado aqui diz respeito à competência técnica do profissional? Concordam que as características mencionadas aqui independem de sua formação acadêmica? Ficou claro que há uma espécie de atitude de espírito a ser adquirida perante o trabalho com textos? Espero que sim. Espero também que humildade, diligência, prudência, segurança, responsabilidade e solicitude façam de nós profissionais melhores. A começar em mim.



[1] Valery Larbaud, Sob a Invocação de São Jerônimo: Ensaios sobre a Arte e Técnicas de Tradução. Trad. Joana Angélica d’Avila Melo. São Paulo, Editora Mandarim, 2001.
[2] Mortimer J. Adler, Aristóteles para Todos. Trad. Pedro Sette-Câmara. São Paulo, Editora É, 2010, p. 108-09. (Coleção Educação Clássica)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sobre o ofício do tradutor



Traduzir não é fácil. Quem diz isso não sou eu, mas um dos mais experientes tradutores brasileiros: Paulo Henriques de Britto (tradutor de Dickens, Ian McEwan, Henry James, Philip Roth, Swift, Faulkner, etc.). Portanto, a fim de desfazer a ideia equivocada de que basta saber uma segunda língua e ter algum tempo livre para se tornar um tradutor, recomendo, inicialmente, a leitura de três livros relativos ao ofício:

  1. Paulo Henriques Britto, A Tradução Literária. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2012. (obra da qual tirei a citação que abre este texto)
  2. Paulo Rónai, Escola de Tradutores. Rio de Janeiro, José Olympio, 2012. (edições anteriores da Nova Fronteira)
  3. Paulo Rónai, A Tradução Vivida. Rio de Janeiro, José Olympio, 2012. (edições anteriores da Nova Fronteira)
Esses três livros são de caráter introdutório e têm como principal virtude o fato de terem sido escritos por tradutores de verdade, não meros teóricos. Praticamente tudo o que dizem está enraizado em sua experiência e em sua erudição. Os livros do Rónai impressionam pela leveza, pela fluidez da linguagem, pela clareza da exposição, sobretudo quando se leva em conta o fato de o autor ser um húngaro que aprendeu português já depois de adulto. São verdadeiros clássicos dos estudos de tradução em língua portuguesa, pioneiros neste campo de estudos no Brasil. O livro do Paulo Henriques de Britto acabou de ser lançado, o que significa já ser uma obra da maturidade, em que se somam suas experiências de escritor, poeta, tradutor e professor de teoria da tradução. Esses livros já são suficientes para desfazer a ideia de que basta conhecer outra língua para se pôr a traduzir.

Além destes, para que cada etapa do processo tradutório seja feito de modo consciente, é igualmente recomendável a leitura de:
4. Brenno Silveira, A Arte de Traduzir. São Paulo, Unesp/Melhoramentos, 2004.
Este livro pode ser considerado um verdadeiro manual preventivo de problemas. Phrasal verbs, falsos cognatos, expressões idiomáticas, tudo isso é abordado de modo a chamar a atenção para o que requer atenção!

Se, por acaso, você tomar gosto pela discussão mais teórica, vale a pena ler:
5. Umberto Eco, Quase a Mesma Coisa. Rio de Janeiro/São Paulo, Record, 2007.
Umberto Eco é semioticista (que não deixa de ser uma espécie de linguista), tradutor e autor traduzido. E todas essas perspectivas se mostram nessa obra.

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Para além de conhecer a língua estrangeira, é imprescindível um domínio da língua portuguesa. E domínio implica não só a capacidade de utilizar a língua com eficiência, mas também a capacidade de analisar suas estruturas fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas; compreender seus mecanismos de funcionamento, seu potencial expressivo, etc. Isso, (in)felizmente, requer trabalho e requer estudo. Cito outros três livros, muito úteis para compreender a que me refiro:
6. Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa Moderna. São Paulo, FGV, 2010. (várias edições anteriores)

7. Gladstone Chaves de Melo, Ensaio de Estilística da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Livraria Editora Padrão, 1976. (Esgotado, encontrável apenas em sebos. Mesmo se for caro, vale o quanto custa!)

8. Adriano da Gama Kury, Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo, Ática, 2003.
Os três são livros de estudo que requerem certa perseverança e prática. O do Kury e o do Othon Garcia têm exercícios de fixação. Não desdenhem do livro de análise sintática; para quem almeja ser tradutor saber sintaxe é ter em mãos uma ferramenta de trabalho.

Quanto às obras de referência, dou toda ênfase a:
9. Agenor Soares dos Santos, Guia Prático da Tradução Inglesa. São Paulo, Elsevier, 2007.
Apesar do título, trata-se de um dicionário dedicado a falsos cognatos e outras armadilhas da língua inglesa. Ao final, dou uma lista de obras complementares que podem ser igualmente úteis.

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Antonio Fernando Borges escreveu um livro chamado Não Perca a Prosa, que contém lições preciosas. Entre outras, num de seus exercícios ele nos manda escolher determinados autores e imitá-los. Ele sugere, por exemplo, que se leia uma série de crônicas de Nélson Rodrigues e depois se escreva uma crônica imitando o Nélson. Ler e imitar, ler e imitar. Vários autores. Ao final, este exercício acabará por nos tornar leitores mais atentos, de modo a perceber certas constâncias de estilo nos autores que lemos. Menciono tudo isso porque:

Para praticar, podemos imitar o estilo de um autor que escreve na nossa própria língua como exercício escolar;

Ao traduzir, devemos imitar o estilo de um autor que escreve numa língua diferente da nossa como dever de ofício.

É claro, nessa fase da imitação, é bom que se escolham livros de diferentes gêneros e, principalmente, que se leiam livros de autores brasileiros e obras traduzidas. Um exercício curiosíssimo, por exemplo, é ler Alice no País das Maravilhas, no original e nas diferentes edições brasileiras (Cosac, Zahar), para ver como certos problemas foram resolvidos. Minha maior recomendação é que, durante algum tempo, haja dedicação aos aspectos formais do texto (escolha lexical, construções sintáticas...), até que se saiba bem, por exemplo, quando cabe uma subordinada concessiva e quando cabe uma adversativa (o Othon exemplifica bem a diferença). Ao lidar com textos, descobrimos a utilidade daquelas aulas de análise sintática que às vezes nos entediavam. Identificar a oração principal e as subordinadas passa a ser tão importante quanto apreender o conteúdo do que está sendo dito. Mais do que isso: em muitos casos, é condição para apreender o que está sendo dito. E, com isso, chego ao último ponto que julgo recomendável: estude latim. Uma vez que, em latim, as funções sintáticas são marcadas morfologicamente e a ordem das palavras é mais ou menos livre, é imprescindível que se faça análise sintática de cada sentença, sem o que simplesmente não se pode compreender o que está sendo dito. Ora, este é o treinamento perfeito para a aquisição do hábito de analisar sintaticamente os textos no mesmo ato em que se lê. Fácil não é; mas é possível.

Bibliografia sugerida

Obras de estudo

Antonio Albalat, A Arte de Escrever em 20 lições. (Só se encontra em sebos!)
Idem, A Formação do Estilo pela Assimilação dos Autores. (Idem – são livros velhos e preciosos. Affonso Romano de Santana disse que foram estes livros do Albalat que fizeram dele um escritor!)
Francine Prose, Para Ler como um Escritor. Trad. Maria Luiza Borges. Rio de Janeiro, Zahar, 2008.
Rodrigues Lapa, Estilística da Língua Portuguesa. São Paulo, Martins Editora, 1998.

Obras de referência

Domingos Paschoal Cegalla, Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Lexikon, 2009.
Antonio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Lexikon, 2010.
Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, Dicionário Analógico da Língua Portuguesa – Ideias Afins. Rio de Janeiro, Lexikon, 2010.
Fancisco Fernandes, Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa. Edição revista e ampliada por Celso Pedro Luft. São Paulo, Globo, 2002.
Antonio Carlos do Amaral Azevedo, Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos. Rio de Janeiro, Lexikon, 2012.
Celso Pedro Luft, Dicionário Prático de Regência Nominal. São Paulo, Ática, 2009.
Celso Pedro Luft, Dicionário Prático de Regência Verbal. São Paulo, Ática, 2009.
Denis Huisman, Dicionário dos Filósofos. São Paulo, Martins Fontes, 2001.
Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia. São Paulo, WWF Martins Fontes, 2012.
J. Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, 4 vols. São Paulo, Edições Loyola, 2001.