quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A teimosia divina

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. (II Cor. 5:18-20)

Aqui e ali se ouvem severas críticas ao chamado apelo comercial do Natal. Mais do que isso: com aquele ar de descaso, muitos afirmam que se trata de uma comemoração atrelada a um consumismo exacerbado, na qual importa consumir, consumir, comprar e comprar. Embora seja meio difícil negar tal realidade, há uma peculiaridade que o distingue das demais datas comemorativas.

A que me refiro?

Refiro-me ao fato de que, em geral, as pessoas estão mais inclinadas a pensar nos outros. Parece-me haver uma nítida diferença entre aquela compulsão neurótica por consumir e ter e o pretenso consumismo natalino. Quando saio para comprar um presente, tenho necessariamente de pensar naqueles a quem pretendo presentear; tenho de imaginar o que poderia agradar, o que poderia ser útil, o que, enfim, poderia trazer um pouquinho de alegria. E é, sim, muito bom dar presentes. Ganhar também, claro.

Estou dizendo isso porque essa tradição, esse hábito, esse costume, seja lá como queremos chamar, revela algo sobre a natureza humana. O homem não é um fim em si mesmo. Ninguém é auto-suficiente, ninguém pode dizer que se basta. Temos sempre a necessidade de ou nos remeter a outrem, ou de nos sentir importante para alguém. É nesse contato com as pessoas que podemos vivenciar experiências que nos ajudam a compreender que a vida tem sentido. Viktor E. Frankl chamava a essa característica humana de estar sempre dirigido a algo ou alguém fora de si de autotranscência. Para Frankl, isso é o que torna um homem um homem.

Quem, então, poderia afirmar-se como absoluto, auto-suficiente? Quem poderia, pois, bastar-se a si mesmo? A única resposta que me ocorre é que Deus é auto-suficiente e se basta. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, Deus se apresenta aos homens e os convida para relacionarem-se Consigo. Os homens, por sua vez, ora se aproximam dele, ora o renegam; ora o obedecem, ora se rebelam; ora são capazes de sofrer por fidelidade a Ele, ora são titubeantes. Enfim, quem ler os relatos bíblicos pode perceber que estes tratam basicamente dos desvios do homem e a insistência divina de se apresentar e de providenciar a reconciliação.

No Natal, celebramos o maior dos presentes divinos. A sinalização de que, apesar dos nossos descaminhos, Ele ainda nos ama, ainda se importa conosco e espera que nos acheguemos a Ele. O Natal é a festa da reconciliação, a solução definitiva para a teimosia do homem que se desvia. É uma espécie de teimosia divina.

7 comentários:

Lelê Carabina disse...

Muito bonito e verdadeiro. Feliz Natal!

Elton Frederick disse...

Agora sim! Muito, muito bom, William!

Filipe de Santa Maria disse...

E comemoremos o dia que chegou este grande presente. Um feliz Natal, William.

Anônimo disse...

Belíssimo texto, brother. Vou encaminhá-lo para alguns amigos. 2009 de paz e graça para você e para os seus.

Unknown disse...

Gostei muito de sua reflexão a respeito do Natal, William. E, concordo, o apelo do consumo não substitui o prazer de presentear quem amamos.

Beijo!

Anônimo disse...

Oi William, é bom saber que ter seu Link em meu blog foi agradável. Gosto de ler seu blog...Parabéns!

Aceitei a sugestão e estou aqui lendo os post's.

BRAVO! (aplausos)...

Este texto sobre o Natal é um tanto quanto "provocativo" (no bom sentido, lógico!). É que me remete ao pensar e ver em mim o que concordo ou discordo... como posso ver eu ou o outro na relação troca-troca dos presentes!

O CRISTO pra mim é o único mesmo capaz da dar reconciliação, perdão, etc... no absoluto.

Para nós resta o Ser Humano. E tentar acertar sempre! (apesar dos inumeros erros...rs)

No humano das trocas lembrei as minhas sensações nos troca-troca de presentes. Ai.... como veio variações... rsrs

* Quando quem presenteia sou eu!

A) EU GOSTO DA PESSOA: Meu sentimento leva a agir da melhor forma possível. Lembro do jeito da pessoa, a cor preferida, os hábitos corriqueiros que a fazem sorrir ou chorar, objetos de maior ou menor uso...enfim... tudo que a faça bem!

B) EU NÃO GOSTO DA PESSOA: Ahhh... aqui deve ser levado em conta minha alta potencialidade de ser ou não mesquinha assim o presente é indiferente ou muito irritante. Também conheço muitos detalhes da pessoa oposta mas, confeço... do jeito avesso das coisas. Sempre com um fundo negativo!

C)EU NÃO CONHEÇO MUITO A PESSOA: Aqui quem ajuda a escolha do presente são as características pessoais. Homem, Mulher, Alto, Baixo, etc. Me baseio na empatia e empatia pessoal e acabo comprando conforme meu sentimento. Ai...que crise! rsrs

* Quando quem recebe o presente sou eu!

A) SE GOSTO DA PESSOA MAS NÃO GOSTEI DO PRESENTE: Arrumo todas as desculpas possíveis para que ela continue sendo a melhor na fita! rs

B) SE GOSTO DA PESSOA E TBM DO PRESENTE: Aqui não precisa muito esforço. Os sentimentos são sempre os construtivos...

C) SE NÃO GOSTO DA PESSOA MAS GOSTO DO PRESENTE: Dou um sorriso ao presnte, manifesto alegria ao presente e deixo parecer que é por causa da pessoa... Nossa! Ser humano é meio confuso..rs

D) SE NÃO GOSTO DA PESSOA E NEM DO PRESENTE: Aqui tenho razões confirmadas para não gostar da pessoa, arrumo mais razões para não gostar dela, continuo a remoer os detalhes do sentimento ruim que atribuí a ela e continuo a acumular somente sentimentos ruins para com o outro.

Para tudo na vida há um sentido (Bom ou Mal) e acredito que Victor Frankl teve a linda capacidade de compreender isso!

Sabe William, seu texto me faz refletir como é dificil ser Ser Humano, mais ainda quando acreditamos no Amor e Misericórdia de Cristo pois aqui a vida pessoal interna exige lapidações. E isso nem sempre é facil, gostoso,..

Mesmo assim continuo apostando neste Cristo que é Absolutamente AMOR, MISERICORDIA... pois sei que em todas as etapas de minha alma (boa ou ruim) Ele permanece nela inalterado com seus ensinamentos e assim recorro a Ele para uma Sabedoria Maior em um Ensinamento Oportuno (Continuar a Ser ou Necessitar mudar o Ser)...

Como acredito que o outro pode ser uma das ferramentas que Cristo nos dá para os ensinamentos, sei que vc, com seus textos, está tendo este poder do Ensinamento Oportuno para o meu agora.

Obrigada por dar esta dose de partilha do bem!

Abraços fraterno!

Patricia-SP

Anônimo disse...

Oi Willian... esqueci de deixar um detalhinho... (Pos Texto)
Ser Ser Humano é muitas vezes dar a carinha a tapa... . Assim evita-se participar dos universos das hipocrisias e inverdades muito comum no universo de hoje!

Abraço fraterno

Patricia-SP