terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Viktor Frankl e eu

Mais um vídeo de Viktor Frankl legendado por mim. A pouco e pouco, vou fazendo este trabalho de diletante. Devo tanto ao Dr. Frankl que o mínimo que devo fazer é ajudar a difundir a sua obra.

A cura pelo sentido



O vídeo anterior, também legendado por mim, era o seguinte:

Sentido último e religião

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Nos bastidores de uma editora

Fiz uma pequena seleção de vídeos que tratam do mercado editorial. De tudo um pouco: tem Luciana Villas-Boas e Lúcia Riff falando sobre agenciamento literário (mas não só); tem o Jaime Pinski ensinando como costuma ser calculado o preço do livro; Boris Schnaiderman, José Paulo Paes e outros tradutores falando sobre o trabalho do tradutor; tem um vídeo sobre a figura fantasmagórica do ghost writer; tem vídeo sobre os diferentes processos de impressão. Enfim, se tiverem tempo e paciência, creio que valha a pena assistir.
Luciana Villas-Boas (Parte 1)


Luciana Villas-Boas (Parte 2)


Lucia Riff


O preço do livro


Tradutores


Ghost Writer


Diferentes métodos de impressão

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Dez livros, dez citações


Fazendo coro com amigos que fizeram suas listas de melhores leituras de 2013, selecionei as minhas 10 e, para me poupar de ter de dizer algo por mim mesmo, optei por selecionar trechos capazes de dar o tom do que se encontra nessas obras. Ainda que a lista valha pouco, gostei do exercício de fazer a retrospectiva.


Jean Gauvain (org.), Relatos de um Peregrino Russo


Se fabricas alguma coisa deves pensar no Criador de tudo o que existe. Se vês a luz do dia, lembra-te daquele que criou a luz para ti; se olhas o céu, a terra e o mar e tudo o que eles contêm, admira, glorifica aquele que tudo criou; se te vestes com uma roupa, pensa naquele de quem a recebestes e lhe agradece, a ele que provê a tua existência. Em resumo, que todo movimento seja para ti um motivo para celebrar o Senhor: assim rezarás sem cessar e tua alma estará sempre alegre.


Pequena Filocalia: O livro clássico da Igreja Oriental


Teonás diz: “Caímos no cativeiro das paixões da carne, porque nosso espírito negligencia a consideração de Deus”.

Poimém diz: O princípio de todos os males é a distração.

Os demônios te veem cheios de ardor pela verdadeira oração? Eles te sugerem, então, o pensamento de certas coisas, que te apresentam como necessárias. Depois, não tardam a avivar a lembrança que a elas se liga, levando a inteligência a procurá-las. A inteligência não as encontra, entristece-se profundamente e se aflige. Chegado o momento da oração, eles devolvem então à memória os objetos de suas buscas e de suas lembranças; assim, enfraquecida por essa associações, ela não vai conseguir realizar a oração proveitosa.


Flannery O’Connor, A Prayer Journal


Comece com a alma e talvez os dons temporais que pretendo exercitar tenham sua chance; e se não tiverem, já tenho o melhor em minhas mãos, a única coisa necessária. Deus deve estar em toda a minha obra.

Encontrei uma paz em minha alma nesses dias que é muito agradável – não nos deixe cair em tentação. O nível da narrativa, ora! Trabalho, trabalho, trabalho. Querido Deus, permita que eu trabalhe, mantenha-me trabalhando, quero ser capaz de trabalhar. Se meu pecado é a preguiça, quero ser capaz de vencê-la.


Georges Bernanos, Diálogos das Carmelitas


Quem lê nossos bons livros pode pensar que Deus experimenta os santos como um ferreiro uma barra de ferro, a fim de medir sua resistência. Mas também o curtidor experimenta com as mãos a pele de camurça, para avaliar sua maleabilidade. Oh, minha filha, seja sempre essa coisa doce e maleável em suas mãos! Os santos não ficavam duros diante das tentações, não se revoltavam contra si mesmos; a revolta é sempre coisa do diabo e, sobretudo, não se despreze jamais! É muito difícil desprezar-se sem ofender a Deus, que habita em nós. Outra coisa sobre isto, temos de ter o cuidado de não levar ao pé da letra algumas palavras dos santos, o desprezo de si mesma a conduziria diretamente ao desespero; lembre-se dessas palavras, embora agora pareçam obscuras. E, para resumir tudo com uma palavra que nunca está em nossos lábios, apesar de nossos corações não a terem renegado: seja qual for a situação pense que sua honra está sob a tutela de Deus.


Andrei Pleșu, Da Alegria no Leste Europeu e na Europa Ocidental e outros ensaios


Primum vivere, deinde philosophari” [primeiro viver, depois filosofar]: um dito tão célebre quanto trivial, um modo de converter o mínimo em valores primordiais. Na realidade, um homem completo e uma sociedade saudável têm necessidade ao mesmo tempo dos benefícios da subsistência e da reflexão, de meias e de sonhos, do pão diário e de utopias. No Leste Europeu, faltam-nos, por ora, assim uns como os outros. E não podemos aceitar que o quinhão da geração atual seja o de “vivere”, ficando a filosofia para ser financiada mais tarde... No que me diz respeito, tenho em mente um retrato ideal do patrocinador “cultural” e, de outro modo, creio que o encontrei algumas vezes: é alguém que, depois de investir lucrativamente em grandes projetos de educação universitária, em pesquisas acerca da arte de governar, legislação, liberalismo, ecologia e minorias, em programas de revitalização econômica e institucional, sente necessidade de sair do circunstancial, do razoável de primeira instância, para investir num jogo com contas de vidro. Mostrou-se rentável financiar a instalação de Newton sob a maçã ou a navegação utópica de Colombo. Os homens não ficam mais pobres se, de vez em quando, consentem em dar de comer aos Serafins...


Russell Kirk, A Política da Prudência


Espiritual e politicamente, o século XX foi uma época de decadência. No entanto, ao aproximar-se o fim do século, podemos lembrar que eras de decadência foram, por vezes, sucedidas por períodos de renovação.

O que vós podeis fazer, moças e rapazes da nova geração da década de 1990, para elevar a condição humana a um nível menos indigno do que Giovanni Pico Della Mirandola (1463-1494) chamou de “a dignidade do homem”? Ora, iniciai por iluminar o local onde vos encontrais; por aperfeiçoar uma unidade humana, a vossa, e por dar auxílio ao próximo.

Não precisareis ser ricos ou famosos para “redimirdes o tempo”: o que precisais para realizar tal tarefa é o unir a vossa imaginação moral à reta razão. Não é pela riqueza ou pela fama que sereis recompensados, provavelmente, mas por momentos eternos: aquelas ocorrências na existência de cada um de vós, na expressão de T. S. Eliot (1888-1965), em que se dá a “interseção do temporal como o atemporal”. Em tais momentos, podereis descobrir a resposta à aquela pergunta imemorial que, vez ou outra, chega à mente de qualquer ser reflexivo, “O que é tudo isso? O que é este mundo que nos circunda e por que estamos aqui?”.


Lima Barreto, Bruzundangas


A política não é aí uma grande cogitação de guiar os nossos destinos; porém, uma vulgar especulação de cargos e propinas.

Sendo assim, todas as manifestações de cultura dessa sociedade são inferiores. A não ser em música, isto mesmo no que toca somente a executantes, os seus produtos intelectuais são de uma pobreza lastimável.

Há lá salões literários e artísticos, mas de nenhum deles surgiu um Montesquieu com o Espírito das Leis, como saiu do Mme. du Deffand. As obras mais notáveis que lá têm aparecido são escritas por homens que vivem arredados da sociedade bruzundanguense.

Em uma sala desse país, quando não se trata de intrigas políticas ou coisas frívolas de todos os dias, surge logo um tédio inconcebível. Ele sepulta o pensamento, antes de mata-lo: enterra-o vivo. Mereceria detalhes, mas só fazendo romance ou comédia.


Osman Lins, Do Ideal e da Glória


[...] Espanta e faz medo que as pessoas ligadas à cultura e das quais, por isso mesmo, esperamos, diante de assuntos culturais, uma atitude cultural, venham engrossando as águas de correntes não culturais com os seus pronunciamentos e atitudes. Como se fossem portadores de AUTORIDADE, e não portadoras de CULTURA.

O fato, mais ou menos repetido, merece a atenção de todas as pessoas em condições de refletir sobre ele. Apresenta uma característica hoje muito em uso; liga pedaços de verdade a coisas inaceitáveis. Enxerta-se alguma verdade no absurdo, de modo que este se apresenta como demonstrado e provado. E não é raro – contrariando o velho axioma da aritmética, o de que não podemos somar quantidades heterogêneas – misturar fatores disparatados.


Ray Bradbury, O Zen e a Arte da Escrita


E o que [...] escrever nos ensina?

Primeiro e mais importante, escrever nos faz lembrar de que estamos vivos e de que isso é uma dádiva e um privilégio, não um direito. Devemos ganhar a vida, já que ela nos foi dada. A vida pede recompensas porque ela nos proveu de ânimo.

Então, embora a nossa arte não possa, por mais que desejemos, livrar-nos da guerra, da privação, inveja, cobiça, velhice ou morte, podemos nos revitalizar no meio disso tudo.

Em segundo lugar, escrever é sobreviver. Qualquer arte, qualquer bom trabalho naturalmente é isso.

Não escrever, para muitos de nós, é morrer.

Devemos pegar nossas armas a cada dia e todos os dias, talvez sabendo que se a batalha não pode se completamente ganha, devemos lutar, ainda que desferindo golpes leves. O menor esforço para ganhar significa, ao final de cada dia, uma espécie de vitória. Lembre-se do pianista que dizia que, se não praticasse todos os dias, ele saberia; se não praticasse por dois dias, seus críticos saberiam; depois de três dias, seu público saberia.


Gladstone Chaves de Melo, Iniciação à Filologia Portuguesa


Ora, o que essa aberração que chamamos “gramatiquice” faz é deduzir normas tiradas da lógica ou, o que é pior, do gosto ou das implicâncias pessoais dos gramatiqueiros, dos puristas, dos buriladores de frases. Um tem antipatia pela forma “apiedo-me”, a outro não lhe sabe bem a concordância um dos que mais trabalhou, a tal outro lhe repugna a regência “amor por”. E dá-lhe a condenar isto ou aquilo, como galicismo, como barbarismo e sei lá que mais.

O resultado de tudo é que o fundamento da gramatiquice fica sendo o capricho pessoal, a opinião, qualquer coisa de essencialmente múltiplo e variável. E então vêm as querelas, vem o “Fulano acha”, “Beltrano prefere”, “Sicrano condena”. Vem o argumento de autoridade, vêm as inúteis citações de vernaculistas de má morte, vêm os severos preceitos vazados na pior das linguagens, a linguagem toda impregnada do intolerável “ranço gramatical”.

É natural, pois, que os homens sensatos se distanciem de tal literatura, concluindo sadiamente que isso é ocupação de ociosos.