Jean Gauvain (org.), Relatos de um Peregrino Russo
Pequena Filocalia: O livro clássico da Igreja Oriental
Poimém diz: O princípio de todos os males é a distração.
Os demônios te veem cheios de ardor pela verdadeira oração? Eles te sugerem, então, o pensamento de certas coisas, que te apresentam como necessárias. Depois, não tardam a avivar a lembrança que a elas se liga, levando a inteligência a procurá-las. A inteligência não as encontra, entristece-se profundamente e se aflige. Chegado o momento da oração, eles devolvem então à memória os objetos de suas buscas e de suas lembranças; assim, enfraquecida por essa associações, ela não vai conseguir realizar a oração proveitosa.
Flannery O’Connor, A Prayer Journal
Encontrei uma paz em minha alma nesses dias que é muito agradável – não nos deixe cair em tentação. O nível da narrativa, ora! Trabalho, trabalho, trabalho. Querido Deus, permita que eu trabalhe, mantenha-me trabalhando, quero ser capaz de trabalhar. Se meu pecado é a preguiça, quero ser capaz de vencê-la.
Georges Bernanos, Diálogos das Carmelitas
Andrei Pleșu, Da Alegria no Leste Europeu e na Europa Ocidental e outros ensaios
Russell Kirk, A Política da Prudência
O que vós podeis fazer, moças e rapazes da nova geração da década de 1990, para elevar a condição humana a um nível menos indigno do que Giovanni Pico Della Mirandola (1463-1494) chamou de “a dignidade do homem”? Ora, iniciai por iluminar o local onde vos encontrais; por aperfeiçoar uma unidade humana, a vossa, e por dar auxílio ao próximo.
Não precisareis ser ricos ou famosos para “redimirdes o tempo”: o que precisais para realizar tal tarefa é o unir a vossa imaginação moral à reta razão. Não é pela riqueza ou pela fama que sereis recompensados, provavelmente, mas por momentos eternos: aquelas ocorrências na existência de cada um de vós, na expressão de T. S. Eliot (1888-1965), em que se dá a “interseção do temporal como o atemporal”. Em tais momentos, podereis descobrir a resposta à aquela pergunta imemorial que, vez ou outra, chega à mente de qualquer ser reflexivo, “O que é tudo isso? O que é este mundo que nos circunda e por que estamos aqui?”.
Lima Barreto, Bruzundangas
Sendo assim, todas as manifestações de cultura dessa sociedade são inferiores. A não ser em música, isto mesmo no que toca somente a executantes, os seus produtos intelectuais são de uma pobreza lastimável.
Há lá salões literários e artísticos, mas de nenhum deles surgiu um Montesquieu com o Espírito das Leis, como saiu do Mme. du Deffand. As obras mais notáveis que lá têm aparecido são escritas por homens que vivem arredados da sociedade bruzundanguense.
Em uma sala desse país, quando não se trata de intrigas políticas ou coisas frívolas de todos os dias, surge logo um tédio inconcebível. Ele sepulta o pensamento, antes de mata-lo: enterra-o vivo. Mereceria detalhes, mas só fazendo romance ou comédia.
Osman Lins, Do Ideal e da Glória
O fato, mais ou menos repetido, merece a atenção de todas as pessoas em condições de refletir sobre ele. Apresenta uma característica hoje muito em uso; liga pedaços de verdade a coisas inaceitáveis. Enxerta-se alguma verdade no absurdo, de modo que este se apresenta como demonstrado e provado. E não é raro – contrariando o velho axioma da aritmética, o de que não podemos somar quantidades heterogêneas – misturar fatores disparatados.
Ray Bradbury, O Zen e a Arte da Escrita
Primeiro e mais importante, escrever nos faz lembrar de que estamos vivos e de que isso é uma dádiva e um privilégio, não um direito. Devemos ganhar a vida, já que ela nos foi dada. A vida pede recompensas porque ela nos proveu de ânimo.
Então, embora a nossa arte não possa, por mais que desejemos, livrar-nos da guerra, da privação, inveja, cobiça, velhice ou morte, podemos nos revitalizar no meio disso tudo.
Em segundo lugar, escrever é sobreviver. Qualquer arte, qualquer bom trabalho naturalmente é isso.
Não escrever, para muitos de nós, é morrer.
Devemos pegar nossas armas a cada dia e todos os dias, talvez sabendo que se a batalha não pode se completamente ganha, devemos lutar, ainda que desferindo golpes leves. O menor esforço para ganhar significa, ao final de cada dia, uma espécie de vitória. Lembre-se do pianista que dizia que, se não praticasse todos os dias, ele saberia; se não praticasse por dois dias, seus críticos saberiam; depois de três dias, seu público saberia.
Gladstone Chaves de Melo, Iniciação à Filologia Portuguesa
O resultado de tudo é que o fundamento da gramatiquice fica sendo o capricho pessoal, a opinião, qualquer coisa de essencialmente múltiplo e variável. E então vêm as querelas, vem o “Fulano acha”, “Beltrano prefere”, “Sicrano condena”. Vem o argumento de autoridade, vêm as inúteis citações de vernaculistas de má morte, vêm os severos preceitos vazados na pior das linguagens, a linguagem toda impregnada do intolerável “ranço gramatical”.
É natural, pois, que os homens sensatos se distanciem de tal literatura, concluindo sadiamente que isso é ocupação de ociosos.
Um comentário:
Maravilha!
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