terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Só sei que foi assim...



Dona Zica: Mas agora estamos procurando isso, mas por incrível que pareça, também teve essa religião agora que eles arrumaram, a Bíblia, tirou muita gente. A Mangueira está com fantasias para dar, para vestir a comunidade e não tem [pessoas].

Jorge Escosteguy: Por que, Dona Zica? A religião não está permitindo? Esses pastores....

Dona Zica: É, viraram tudo bíblia, as moças, viraram bíblia os rapazes, estão tudo na...

Osvaldo Martins: Quantas igrejas dessa tem no morro da Mangueira?

Dona Zica: No morro da Mangueira a maior parte toda é da religião.

Osvaldo Martins: São quantas igrejas mais ou menos?

Dona Zica: Lá no morro da Mangueira tem três, mas eles não saem dali da Mangueira. Vão para outros lugares onde tem.

Osvaldo Martins: Vê o estrago que isso aí causa no samba, o grande mestre-sala da Mangueira, o Lilico, foi acobertado por uma igreja dessas, abandonou o samba e renega o samba, diz que é coisa do diabo.

Dona Zica: Minha neta foi da bateria desde os oito anos, foi da bateria, depois passou a ser mestre-sala, abandonou, porque virou... largou tudo, porque ela virou aí da seita, né.

Jorge Escosteguy: Mas o pessoal da escola não tentou conversar um pouco com essas igrejas?

Dona Zica: Não, depois que eles encasquetam aquilo na idéia, não adianta.

Osvaldo Martins: Em defesa do samba tem que fazer movimento contra essas igrejas, elas vão acabar com o samba. Vão mesmo, falando sério, hein, falando sério!

Dona Zica: Vão acabar, vão sim, para um ano, é capaz de quase não ter.

Jorge Escosteguy: Pelo que a senhora disse, hoje, na Mangueira sobram fantasias e não há pessoal pra desfilar, da comunidade?

Dona Zica: É, para desfilar, da comunidade. Porque todas as meninas moças, não é só velho não, é moças mesmo, viram bíblia e não querem mais saber da escola.

Jorge Escosteguy: Como é que a escola tem tentado reagir a isso?

Dona Zica: A escola tem tentado porque a gente até é obrigado até a sair com gente de fora, dos estados, porque da comunidade não tem. E têm aqueles ainda que não são mangueirenses, mas temos muitas escolas que estão divididas, Portela, Salgueiro, quer dizer, Mangueira, aquela que a Mangueira contava é difícil..

Jorge Escosteguy: É obrigado a buscar pessoal de fora para desfilar pela escola?

Dona Zica: Às vezes, eles falam: “Ah, mas está saindo só o pessoal de fora”, é porque não tem, o carioca não quer. Então nós somos obrigados... Na minha casa tem três alas: tem a ala da minha filha, do meu filho e da minha neta. É quase cheio de pessoas de fora. São Paulo, principalmente, sai quase São Paulo todo, de todo o estado de São Paulo.

trecho do Roda Viva exibido em 14/02/94

Como sabemos, ao contrário do prognóstico, o carnaval continua a existir.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

God is a DJ



Outrora eu teria um certo pudor para postar um vídeo como esse. Nos meios ditos pentecostais, ainda há quem cite com temor o tal do pecado imperdoável, o pecado contra o Espírito Santo, para se referir a brincadeiras como essas. Simplemente não consigo compreender como é que alguém consegue atribuir esse tipo de bizarrice à ação divina!
Aí vem a blindagem: no dia de pentecostes, também pensaram que os apóstolos estavam embriagados; as coisas de Deus são mesmo incompreensíveis; ai daquele que tocar num ungido do Senhor, etc., etc. Quem me conhece sabe o asco que sinto pelo jargão igrejeiro.
E se posto o vídeo, faço-o com uma boa dose de bom humor. Não quero ridicularizar os crentes! Quero mesmo é popularizar o drum'n'bass. Por isso digo: God is a DJ. The minister is the MC!!!

Somebody make some noise!

José Monir Násser ensina o Trivium em São Paulo

Enquanto não posso dispor de muito tempo para manter este blogue, passo apenas para divulgar um curso deveras interessante a ser ministrado no Espaço Cultural É Realizações. Tenho, é fato, uma série de restrições à edição brasileira do livro da Irmã Miriam Joseph. Mas isso não é suficiente para minar o valor da obra. Não deixem de conferir.

Ah, sim, para ver o programa do curso, clique na imagem.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A gente não quer só comida

Rua Augusta. Como de costume, um alvoroço. Sobe e desce de carros, música alta, gargalhadas. Mesas de bar nas calçadas. Grupos de moderninhos e descolados bebiam festivamente, discutindo a fotografia do último filme, comentando a “eleição histórica do presidente negro” ou censurando ao que entendiam por conservadorismo da sociedade, da mídia, essas coisas.

À distância, o menino maltrapilho, já um observador mais arguto que muito psicólogo academicamente treinado, olha atentamente para o bar e escolhe a quem vai abordar. Acostumado com o enxotar meio cúmplice meio impiedoso dos garçons, espera atentamente a oportunidade de se aproximar. O garçom leva as cervejas para a mesa lá de fora e volta para atender às demais.

Eis a oportunidade. Com um olhar singelo (talvez ensaiado), o menino faz sua abordagem:

— Tio, dá uma moeda?
— Não tenho!
— Ah, vai tio, dá uma moeda...
— Pra que você quer?
— Pra comprar um negócio...
— Cê tá com fome? Quer um lanche? Me fala que eu te pago.
— Não, tio. Me dá uma moeda...
— Não vou dar, não. Você deve estar querendo usar droga...
— Não, tio...
— Então me fala, pra que você quer?
— Ah, é que eu queria ir na lan house entrar no orkut...