quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Coro Pacifista


Por Elton Frederick:

A busca pela paz, entendida aqui em seu sentido mais amplo, que abrange a substituição da violência pelo diálogo, a inimizade pela amizade, o ódio pelo amor, seria o mais nobre dos anseios humanos, o objetivo último da civilização. A guerra representaria o que temos de obscuro, o atraso; a paz, o clarão das luzes, o moderno. E isso fica patente em tempos de prélio: o discurso pacifista surge com força e autoridade, convidando os defensores do bem a se manifestarem em favor daqueles que ora choram por seus mortos.

Há um velho ditado, oriundo dos confins do senso comum, que assegura que as guerras não produzem vencedores ou vencidos: todos perdem. A máxima leva em conta aquilo que seria uma espécie de “sentimento comum”, presente em todo homem, que faz com que as inúmeras mortes, a destruição e o sofrimento de nossos “irmãos” nos tornem — agredidos ou agressores — derrotados. "A morte de qualquer homem me diminui, porque faço parte da humanidade", re-poetaria John Donne, ao ver nossas mais recentes desventuras.

Abro um parêntese: os que hoje gritam por paz na Terra são os mesmos que não hesitam em amaldiçoar até a décima geração daqueles que ousarem lhes aplicar uma fechada no trânsito; são os mesmos que não pensam duas vezes antes de esbofetear um vizinho barulhento. A solidariedade a distância sempre traz consigo um hálito de hipocrisia. Fecho o parêntese.

O conflito entre o exército de Israel e os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza, além de desnudar, mais uma vez, o delicado estado de coisas na região, mostra a inocência do coro pacifista. Aquilo que seria um indício de esperança – dado o número de manifestações pedindo o fim do conflito, e a quase unânime sensação de que a luta armada é um mal que precisa ser extirpado – me parece, ao contrário, um claro sinal ingenuidade, misturado à mais repudiável forma de caradurismo político: a demagogia.

Se entendermos a guerra como o exercício da política por outros meios, fica claro que os conflitos resultam em vencedores e vencidos, a despeito do “sentimento comum” que nos uniria em nome da paz. É evidente que a morte de civis – penso nas crianças que morrem e naquelas que viverão sem a certeza de futuro – é algo repudiável; é comovente ver escolas destruídas, pessoas desabrigadas e famintas, e isso nos causa horror. Todavia, esse é um aspecto que, a meu ver, está embutido no cálculo do beligerante, razão pela qual não faz muito sentido apelar para os escrúpulos humanistas das partes em conflito. Trata-se, obviamente, de uma equação macabra, porém real.

Além disso, me parece uma medida contraproducente repudiar os conflitos sem apresentar algo que os substitua. Sim, porque a paz – tal como é apresentada por nossos beatos – não é uma concorrente à altura da guerra. A paz como um mero vocábulo, que não carrega consigo um conjunto de valores que nos ajudem a suplantar a guerra, é, a meu ver, conversa fiada, uma gratuidade que não nos leva a lugar algum, que não resulta em nada. Serve apenas para manifestar um bom-mocismo artificial.

A simples renúncia à guerra não resolve os conflitos que ela se propõe a sanar. Pensa-se, ingênua ou desonestamente, que para acabar com as batalhas basta não desejá-las, reprimir determinadas paixões e tratar as armas como algo sujo, frutos da estupidez humana. E não se trata de insensibilidade: o que quero dizer é que a guerra ainda é, infelizmente, o caminho mais eficaz para a resolução de controvérsias, depois que todos os esforços chamados “diplomáticos” são esgotados. É a versão menos vulgar do “Existem coisas que só se resolvem na porrada”.

A guerra não é um instinto; trata-se de uma invenção que, em muitas ocasiões, solucionou controvérsias que pareceriam insolucionáveis. Enquanto a paz também não for “inventada”, calculada para atender as demandas que ora são respondidas pelas armas; enquanto for apenas um discurso bonitinho e ordinário, a guerra será sempre uma opção a ser considerada. Lamentavelmente.

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