sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ops...

Meu caro amigo Elton mistura alhos com bugalhos em seu post sobre Paulo Coelho. É claro que muitos de seus críticos jamais leram sequer uma linha do mago da literatura; é claro que há muito ressentimento por causa de seu sucesso; é claro que ele suscita inveja em muita gente; é claro que, no Brasil, alguém ser bem-sucedido com seu trabalho acaba sendo coisa condenável(!); é claro também que, por oferecer um sucedâneo de vida espiritual, ele acaba vítima do preconceito tanto de ateus quanto de religiosos.
Tudo isso é fato. Mas é fato também que ele não é nenhum gênio da literatura. Uma crítica rigorosa, fiada em critérios sobretudo estéticos, também o relega a uma posição menor. Então é isso. O fato de sofrer de todos os preconceitos não o torna maior.

Quanto ao que faz uma obra ser grande, Antonio Fernando Borges já respondeu de maneira bastante pertinente (Ah, sim, juro maneirar nas referências a ele).

Ao ler um romance, quais são os critérios que você utiliza para dizer: “isto é bom”? E quais são as razões que te levam a, subjetivamente, preferir certos livros a outros?

Eis aí uma questão fundamental, difícil mesmo, que a maioria das pessoas em geral resolve pelo caminho fácil da filiação (no fim das contas ideológica) a uma corrente de opinião alheia – ou, então, empinando o nariz e citando os autores da hora… Na verdade, estes critérios (“por que isto é bom?”) envolvem o chamado cultivo do gosto, que tem a ver com a educação do espírito e até dos sentidos – e tudo isso tem a ver com a questão do autoconhecimento, um passo decisivo no caminho da sabedoria.

No Brasil, onde todos defendem o “direito de ter uma opinião”, esquecendo no mais das vezes o dever de buscar a verdade, as coisas sempre acabam se ajeitando num subjetivismo que pouco ou nada acrescenta à própria história de cada um. Mas o fato é que bom gosto e bom senso (elementos decisivos no modo ético-estético de encarar o mundo) são questões objetivas, concretas – e não uma “terra de qualquer um”. Mas, entre nós, cada um prefere “achar” o que quer – e fim de papo. Feliz, ou infelizmente, perdi há muito esta “inocência” (na verdade, uma malandragem das boas…), e então, quando me faço a pergunta estou me colocando um grande desafio: por que este romance é bom? Não me contento com a mera sensação de prazer que sua leitura acarreta: ele é apenas um dos fatores! Há fatores igualmente importantes, como a questão semântica (o que o romance diz, os valores que transmite), a forma como o assunto é tratado (sua sintaxe, a seleção e combinação das palavras), a harmonia do conjunto, a sensação de beleza que tudo transmite… São tantas coisas em jogo! Porque, para além da avaliação específica de cada livro, existe a obrigação de inseri-lo, comparativamente, no conjunto da literatura e da cultura – tarefa a que os tolos e poltrões também se furtam, contaminando o âmbito cultural de uma idéia equivocada de democracia igualitária. Mas, queiram ou não, cultura é hierarquia!

Trata-se de um questionamento solitário, que no fim das contas não difere muito do meu autoquestionamento de escritor. Porque em mim o leitor e o escritor sabem que se trata de um problema objetivo, e não de uma vaidade “subjetivista”. E aí começa todo o drama, que vai se precipitando sem máscaras e, no meu caso, também sem testemunhas, desde que abandonei a prática de escrever as malfadadas resenhas de suplementos literários.

Claro que este esforço de objetividade não elimina as arbitrariedades subjetivas. Mas, a cada livro que começo a ler, a esperança se renova: desta vez, eu chego um pouquinho mais perto!

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PS1: Vê lá por onde anda, rapaz! Não me vá aderir ao politicamente correto!

PS2: Eu sou um ganso profissional. E nunca vi ninguém lendo Joyce no metrô. Nem Proust!

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