sexta-feira, 16 de maio de 2008

A mídia e o assombro que sacia...


Estréio falando sobre a imprensa – ou “mídia”, como preferem alguns. Inexiste classe que não se julgue “perseguida” pela dita. Negros, pobres, religiosos, militantes de movimentos sociais, empresários, tucanos ou petistas. Se perguntados sobre o tratamento recebido pela mídia, todos levantarão ressalvas: “não é bem assim”, “leitura enviesada”, “matéria parcial”, “estão nos demonizando”. A mídia só faz vítimas, nunca beneficiários.
Li há pouco um artigo publicado no Le Monde a respeito do assassinato da pequena Isabella. O título era sugestivo: “O Sorriso de Isabella assombra o Brasil”. Num determinado momento o articulista elege aquela que seria a grande culpada pela exagerada comoção popular, ou melhor, o “fermento para excitação”: a mídia, claro. Diz:
“Os meios de comunicação alimentaram um clima de frenesi em torno do assunto. Para sua cobertura, a Rede Globo, maior do país, mobilizou em permanência 15 equipes de repórteres e cinegrafistas, três veículos de transmissão ao vivo e um helicóptero.”
Isso é um tanto óbvio, não? É notório que houve inúmeros exageros na cobertura do caso. Lembro-me de uma repórter que entrou ao vivo em um desses telejornais mais “Hardcore” e respondeu ao ser questionada sobre as novidades: “Nenhuma novidade, fulano. Hoje o casal não apareceu e ninguém da família quis falar com a imprensa”. Ora, a repórter sabia tanto quanto eu – nada! Não havia motivo para estar ali; não havia motivo para acampar na porta do casal se sabia que nada conseguiria. Tudo isso é verdade, mas a discussão é outra.
Afinal, é verdade que a mídia tem a capacidade de, digamos, “formar opinião”? Será que de fato existe esse poder quase mágico de determinar nosso gostos, nossas obsessões? Há quem diga – e a discussão é deveras densa para ser tratada agora – que a mídia responde a certas demandas: ou seja, ao invés de “formar” opinião, ela “reproduz” opiniões já formadas. Veja o exemplo das novelas. É comum os autores mudarem determinados enredos para agradar o público. Ao invés de enfiar goela abaixo certos temas, eles captam aquilo que os espectadores querem ver e jogam na tela. O efeito é reconfortante...
É notória essa nossa predileção pelo trágico; esse gosto delirante pelas desventuras alheias. Será que, como dizem alguns psiquiatras, existe um Nardoni adormecido em cada um de nós e o misto de repulsa e curiosidade seria apenas o instrumento que temos para exorcizá-lo? Nesse caso, a mídia-exagero nada mais é senão o reflexo de nós mesmos. Tão mórbida e obsessiva quanto você e eu...

Um comentário:

Osmar. disse...

Que assunto mais melodramático, e ficou bem retrato em suas palavras, esse caso se tornou uma novela, na qual as pessoas já esperavam pelo proximo capitulo, saindo da realidade e partindo para ficção,e o meio de comunicação pertinente ao nosso dia a dia, conseguiu capitar essa carência da população e fazer um baita sensacionalismo em cima de uma familia de classe média, pois se fosse uma familia pobre, a repercussão não seria a mesma devido a falta de personagens tão bem preparados.

1 abraço